O projeto Canteiro Aberto, uma iniciativa de educação patrimonial, foi elaborado e realizado pelos institutos Biapó e Brasil Restauro em 2023, durante o início da obra de restauração da Estação Ferroviária de Taubaté. O objetivo era trazer a população para dentro do patrimônio histórico, que esteve fechado por mais de duas gerações e se tornou um espaço público desconexo com as relações urbanas contemporâneas.
A iniciativa foi estruturada para acompanhar a evolução da obra de restauração, que durou 15 meses. O canteiro de obras foi aberto em três períodos distintos, ilustrando o início, o meio e o fim de uma ação de conservação e restauração em bens imóveis. Mais de 50 pessoas visitaram as obras, divididos em três visitas guiadas realizadas em julho, setembro e dezembro.
As visitas foram idealizadas para unir a pluralidade social e cultural produzidas pelo patrimônio histórico. De forma tangível, houve explanação de todas as atividades realizadas no canteiro de obras, ilustração do passo a passo de um processo de restauração estrutural e artístico. Além da demonstração dos processos, houve exposição dos projetos técnicos desenvolvidos e aprovados pelos órgãos competentes e as ferramentas utilizadas para o restauro das pinturas artísticas, do ladrilho hidráulico, das janelas e portas em madeira e dos ornamentos das fachadas.
Para tornar as visitas mais lúdicas e educativas, os atores-educadores se vestiram de personagens do Monteiro Lobato, autor natural de Taubaté e cuja obra é tombada como patrimônio imaterial da cidade. Assim, uniu-se a obra com educação patrimonial por meio do patrimônio histórico material, a estação, com o patrimônio histórico imaterial, os personagens de Monteiro Lobato.
Além das visitas guiadas, o Canteiro Aberto potencializou sua atividade na busca de legados intangíveis, já que, após a ação não se mensurou os resultados, mas quando idealizada, trilhou-se o caminho da permanência afetiva cultural no público que teve contato com o patrimônio ferroviário. A iniciativa buscou ressignificar o uniforme dos funcionários por meio de arte, unindo símbolos do patrimônio industrial ferroviário e a cidade de Taubaté, o resultado foram novas camisetas de obra aos funcionários e, após desmobilização da obra, doação da arte aos artistas locais para produção de souvenirs.
Essa iniciativa ilustra as possibilidades plurais que podem ser oferecidas à população quando há respeito ao processo de restauro pensado por pessoas para pessoas, pois nada vale restaurar sem garantir que o patrimônio seja acolhedor para nova apropriação, e assim formar novas experiências.